Escrever não é para todo mundo. É assim, com uma simples afirmação, que muitas pessoas deixam de olhar para a escrita como uma ferramenta próxima e começam a vê-la como um sonho distante, daqueles que só os mais determinados conseguem alcançar. Mas, felizmente, essa não é a verdade. A escrita é hábito, é cotidiana, é arroz com feijão. Aliás, perceba (mais uma vez) as afirmações. O ato de escrever já faz parte de você, que talvez só tenha se esquecido disso.
Sim, escrever é fundamental, e, como disse José Saramago, “somos todos escritores”. Afinal, quem, nos dias de hoje, não precisa enviar mensagens, escrever relatórios, fazer vestibular ou então produzir uma matéria jornalística? Junte a isso o fato de que tudo que você escreve ser uma história. Uma história que você conta para uma ou para muitas pessoas. Pode ser um comunicado, um documento cheio de números, um processo judicial ou a fábula dos três porquinhos. Para que as suas histórias sejam bem entendidas, tenha em mente que a escrita é uma sequência de ideias coladas umas nas outras pela lógica. Isso não é uma regra imposta pela gramática; simplesmente é assim que a gente se comunica; é assim que a gente entende o que lê.
É verdade que escrever pode parecer fácil. Porém, todos aqueles que, algum dia, quiseram passar suas ideias para o papel ou computador já tiveram momentos em que isso se mostrou uma tarefa impossível e frustrante. Quando nos sentamos para escrever o que quer que seja, é preciso lembrar que a escrita é um registro concreto do pensamento. Não é só um amontoado de palavras soltas; elas são uma mensagem. Na pior (ou melhor) das hipóteses, é a materialização de uma cadeia única dos nossos pensamentos.
Falo não só de literatura, mas de tudo. E-mails, mensagens, redes sociais, blogs; em tudo estão nossos pensamentos vertidos em palavras. Sua precipitação e seu carinho, suas lembranças, quem um dia você foi, com quem um dia você falou. Tudo está a um passo de ser apagado, é verdade, mas enquanto existência é o registro de uma parte sua, e somente sua, que nunca mais voltará.
O nosso “Encontro Criativo: descubra sua identidade textual”, portanto, é justamente um reencontro: seu com as palavras e o seu objetivo primordial de comunicar. Uma imersão que reacende a paixão pelas palavras e mostra como a escrita já é parte do nosso cotidiano, além de uma ferramenta poderosa que vale tanto para construir e enviar mensagens com clareza, quanto para expressar e clarear aquilo que sentimos para nós mesmos.
O curso nasceu das experiências de quatro jornalistas da Contelle – Emanoelle Beltran, Nathália Sartorato, Marcele Antonio e Tátila Pereira – que acreditam e vivenciam diariamente os efeitos do poder da comunicação escrita, e, com propriedade, decidiram compartilhar seus conhecimentos com acadêmicos de comunicação, recém-formados ou profissionais que estão na área há muito tempo, mas querem levar novos olhos e ares à própria produção textual.
A primeira turma foi celebrada no dia 26 de junho de 2021, no Cais Coworking Cascavel. Um dia no qual cada aluno e aluna teve a oportunidade de mergulhar em seis horas de conteúdos de valor, atividades práticas, reflexões propulsoras e aprendizados mútuos. Afinal, a comunicação é, essencialmente, um processo que depende da troca e da prática.
Aqui, é interessante ressaltar que o nosso Encontro não tem como objetivo ensinar como se deve ou não escrever. A abordagem consiste em escrutinar o repertório técnico fornecido pela tradição literária para permitir ao autor que conduza seu próprio florescimento, destravando potenciais e refinando estilos para a descoberta de uma escrita criativa, livre e com propósito.
Aliás, o caminho para a construção de um bom texto não conta com atalhos ou fórmulas mágicas. No percurso, é necessário dedicar atenção às pequenas paradas, que aqui se caracterizam como quatro aspectos: pesquisa e apuração, inspiração e repertório, estrutura textual e adaptabilidade. Cada um deles corresponde a um módulo do nosso curso. São verdadeiros guias na trilha da produção textual. Isso porque entendemos que texto é produto de um processo. É um produto no sentido de ser resultado de um contexto de situação e de cultura particular. Tanto é que escrever ensina você a ouvir e confiar na sua própria voz.
Além disso, na construção de conteúdo é comum sofrer interferências de nossas referências como leitores. Profissionalmente, é um desafio falar a ”mesma coisa”, mas de uma forma diferente, autêntica e atraente. Por isso, para abandonar o modo automático na produção escrita é necessário ampliar o repertório, as experiências fora do ambiente de trabalho e do conteúdo do nosso próprio nicho. Esse consumo e a vivência de temas variados são as principais fontes de inspiração que trazem a tão sonhada originalidade ao texto. Ao descobrir e começar a ouvir sua própria voz, seus textos ganharão autenticidade, velocidade e profundidade.
Muito além do desenvolvimento da escrita, o curso nos põe em movimento, provoca e estimula o contato com pessoas que dividem a mesma paixão. Sempre digo que a escrita é um hábito solitário, mas quem escreve não precisa ser. É nesse ponto que entra a conexão com a verdade e a identidade de quem escreve. Bons textos têm o poder de construir pontes entre as pessoas. Quando um texto consegue criar uma conexão com você, pode ter certeza que o autor também estava em plena sintonia com cada uma daquelas palavras.
Afinal, resgatando o pensamento de uma das jornalistas responsáveis pelo curso, Nathália Sartorato, “um texto com identidade é escrito para o outro ao mesmo tempo em que me reconheço nele. Por isso, ele também é sobre mim”.
Assim, podemos seguir o caminho de Aristóteles ou de tantos outros filósofos e escritores que se valem da escrita para alcançar o outro, mas também ter a escrita como uma aliada para o diálogo e para a viagem para dentro de nós mesmos, pois escrever possibilita um encontro maravilhoso com nosso íntimo, nossas ideias e este turbilhão de emoções que nos inquietam e nos sustentam.
Lembre-se: a vida é um emaranhado de fatos, personagens e ambientes. Enquanto escritores, nosso trabalho é escolher um fio desse novelo e esticá-lo na frente dos leitores. É enxergar o mundo e dar algum sentido para ele. O trabalho de quem escreve é traduzir a vida. Logo, escrever exige responsabilidade, intenção e ousadia. Elementos indispensáveis para construir a sua identidade.