IRMÃOS HUBER: firmeza e arrojo são os temperos dessa história

Capa Irmãos Huber

Eles estão a um grito de distância. Cada uma das pontas do curto corredor abriga uma sala, onde preservam as individualidades e o exercício das distintas funções. Mas a separação não impede que a cumplicidade familiar se mantenha acesa, e nenhum deles pensa duas vezes antes de dar alguns passos até o outro, seja para uma bicada no chimarrão ou para traçarem planos juntos. Ivandir e Iliziário têm características físicas que não deixam dúvidas de que são os irmãos Huber e contam com personalidades e habilidades complementares, que garantiram o êxito das empresas da família. 

A história dos dois, nem de longe, é uma linha reta. A família se formou em Lages, Santa Catarina. O pai, Lauro, era agricultor e morava nas próprias terras com a esposa, Ilce, e os filhos: Hilário, Elena, Ivandir e Iliziário. O acesso à escola era bem complicado, por isso, os irmãos mais novos foram para Vacarias, no Rio Grande do Sul, buscar estudo. Lá, moravam com uma tia e só voltavam para casa a cada quatro meses. “Era tudo muito sofrido naquela época”, reflete Iliziário. 

Os pais já não queriam mais ter que conviver com a distância e decidiram vir para o Paraná, trazendo a família inteira. A escolha foi pelo município de Planalto, na região sudoeste. A intenção era melhorar de vida, investindo todo o dinheiro da venda das terras em um matadouro de gado, mas os planos foram tragados pela má-fé.

“Meu pai era uma pessoa de muito bom coração, que confiava nas pessoas, e foi enganado por muita gente. Em pouco tempo, faliu. Voltamos à estaca zero”, relembra Ivandir. 

Em busca de sobrevivência, todos saíram à procura de trabalho. Iliziário vendeu picolé na rua e, depois, ficou por quase 10 anos trabalhando em um supermercado da cidade, fortalecendo, assim, seu talento para o setor comercial. Já Ivandir foi frentista de posto e depois trabalhou em uma indústria de classificação de sementes. Ainda em Planalto, houve tempo para que a dupla atuasse pela primeira vez em uma empreitada juntos: dividiam a boleia em um caminhão, levando calcário para o Mato Grosso do Sul e voltando com soja para Paranaguá. 

A chegada em Cascavel

Na década de 80, Iliziário já era casado. O primeiro filho deu início à sua própria família, mas o colocou também cara a cara com a dureza do preconceito. Douglas nasceu com síndrome de Down e foi motivação para que os pais lutassem por respeito e por mais condições de desenvolvimento para o filho. “O Douglas é meu grande companheiro, foi um presente de Deus para mim”, destaca Iliziário. A chegada do filho foi um impulso para vir para Cascavel, uma cidade que já naquela época tinha mais recursos. 

Por 18 anos, Iliziário trabalhou como vendedor em uma grande rede de supermercados. Foi um encontro ainda mais intenso com sua vocação. “Pessoas que gostam e sabem vender nunca vão passar necessidade”, destaca. Nesse intervalo, a família cresceu: vieram o Guilherme, o Leonardo e a Mariana, a “rapinha” do tacho. 

Iliziário

A trajetória até que Ivandir chegasse à Capital do Oeste foi bem mais longa. Antes, chegou bem perto, em Toledo e tinha uma rotina puxada. Trabalhava e morava em um hotel, na hora do almoço atuava em uma churrascaria e fechava o dia no colégio, onde cursava Tecnólogo em Contabilidade. Depois, voltava para o hotel para o ciclo recomeçar. “Quando o hotel fechou, voltei para Planalto. Lá, ajudava meus pais em um clube que ele comandava e também trabalhava na Prefeitura Municipal, na área de contabilidade”, explica. 

Quando outro grupo político ganhou a disputa pela Prefeitura, Ivandir fez parte dos que foram mandados embora. Ele, então, juntou a família e arrumou as malas rumo ao Rio Grande do Sul, se unindo a familiares na venda de materiais de construção e de móveis planejados. Foram anos de muito trabalho e de muita alegria também, com as três filhas – Kelly, Karin e Keila – cheias de energia. 

Ivandir

Quando a sociedade chegou ao fim em terras gaúchas, foi hora dos irmãos começarem a pensar em fazer algo juntos. A ideia era empreender e Ivandir veio para Cascavel. No radar, porém, apareceram opções no Mato Grosso do Sul e também no sudoeste paranaense. Os negócios foram quase fechados, mas aí surgiu a oportunidade de comprar a Beija Flor Alimentos e depois uma distribuidora, que se tornaria a Huber Distribuidora. “Era para ser aqui, não tinha jeito”, pontua Ivandir. 

As batalhas de ser empresário

Ao assumirem a Beija Flor Alimentos, sabiam que não teriam flores pelo caminho, já que a situação financeira estava bem complicada. Na otimização dos custos, os sócios eram pau pra toda obra.

“Não tínhamos descanso nem no final de semana. Virávamos noites contando mercadorias, separando. O sistema da Beija Flor era todo manual – tinha que fechar saquinho por saquinho”, recorda Ivandir.

Era um barracão de 400 m² na Rua Santa Catarina, onde também tocavam a distribuição das Havaianas, produto que até hoje está entre os principais do portfólio e que por quase quatro anos foi o único da distribuidora. “Pegamos a explosão das Havaianas no mercado, com diversidade de modelos e cores”, conta Iliziário ao Páginas Laranjas

A labuta acompanhada de muita seriedade fez com que o rol de produtos crescesse rapidamente, tendo hoje 18 marcas distribuídas, a maioria líderes em seus segmentos, como Bauducco, Johnson & Johnson e Dr. Oetker, além de uma marca própria, a Huber Alimentos, que conta com azeitonas, conservas, temperos, batata palha, castanhas e condimentos. A Beija Flor deixou os dias difíceis para trás e também expandiu seu mix de produtos com uma linha completa de condimentos, cereais e especiarias. Outras duas novas marcas próprias também entraram para o grupo: a Aba, com a fabricação de azeitonas, e a Vó Ilce, que homenageia a mãe deles, com uma linha de produtos à base de amendoim. 

A atuação está em todo o Paraná. A parte logística, com fabricação e distribuição, está toda concentrada em Cascavel, e há escritórios em Londrina e Curitiba. São 6 mil clientes e um trabalho minucioso de confiança e qualidade, que conta com mais de 500 colaboradores, entre diretos e indiretos.

Tátila Pereira entrevista Irmãos Huber

Cada um no seu quadrado

Cada um chegou à sociedade com uma bagagem bem cheia de experiências, mas em diferentes áreas. Foi natural a divisão dos papéis na empresa: Iliziário encabeçou a parte comercial e Ivandir ficou com os setores administrativo e financeiro. 

O equilíbrio também se deu por conta dos perfis de cada um. Iliziário diz que Ivandir é arrojado, enquanto ele é mais cauteloso. Ivandir diz que Iliziário é firme, enquanto ele é mais maleável, mais coração mole. Foi o casamento perfeito para trazer a empresa até o patamar em que está, com 20 anos de história e um crescimento entre 15 e 20% ao ano. 

Nessas duas décadas, Iliziário tem uma espécie de ritual, que exemplifica sua firmeza: pega seu chimarrão e, antes de qualquer outro compromisso, checa todas as vendas do dia anterior. Os olhos atentos visualizam os resultados abaixo do esperado e buscam entender o motivo com os supervisores. Um acompanhamento que também acontece nos treinamentos e em reuniões, que ele não abre mão de participar. 

A ousadia de Ivandir fica por conta das frequentes obras em andamento. Hoje, já são mais de 12 mil m² e há mais construções no planejamento. Ele também nunca teve medo de investir, mas sempre com o cuidado devido para honrar com todos os compromissos.

“Não sei o que é atrasar pagamento um dia sequer. Nunca dei chances de alguém me cobrar”, ressalta. 

Toda a experiência na liderança do negócio está sendo passada aos poucos para os sucessores. Os filhos de Iliziário, Guilherme e Leonardo, e o genro de Ivandir, Guinther Southier, estão bem próximos, já ajudando nas tomadas de decisão. Ivandir já soltou um pouco mais as rédeas, tem tirado mais tempo para viajar e curtir a vida com a esposa e os amigos. Já o irmão dificilmente fica um dia sem ir à empresa. “Acredito que eu vou tirar o pé daqui uns dois anos, aí não terei o compromisso de vir aqui todos os dias, mas quero continuar acompanhando”, prevê Iliziário. No futuro, os dois devem se tornar conselheiros dos negócios. 

Um recomeço para os Huber 

Todos os planos quase ruíram em 2021. Nova onda de Covid-19 e Iliziário foi uma vítima grave do vírus. O ar já faltava e era necessário um atendimento emergencial. A família passava férias no litoral catarinense, chovia muito e as formas de transporte para um bom centro médico estavam praticamente inviáveis. Ivandir estava de longe, mas ajudou a viabilizar a viagem. O atendimento feito em São Paulo foi preciso. O check-up de saída, no entanto, guardava mais uma surpresa aos corações aflitos da família: ele tinha um aneurisma prestes a estourar; era um caso cirúrgico urgente. 

A operação foi em Curitiba e deu tudo certo. A cicatriz na cabeça segue como lembrança e Iliziário sorri ao lembrar do susto. “A gente tem uma missão e a minha não estava completa”. Agonia de quem passa e agonia de quem acompanha de longe o sofrimento. “Só quem viveu tudo isso para dizer. Foi muito difícil, a situação era muito grave. Graças a Deus ele continua aqui com a gente”, agradece Ivandir. 

O baque foi um chamado para que os irmãos valorizassem ainda mais a saúde e a vida, e também os pequenos momentos como tomar juntos um café no meio da tarde ou ir à sala do outro só pra mostrar algo engraçado que acabaram de ver. Há a garantia de resposta do outro lado do corredor. Eles têm um ao outro, se completam, se admiram – e isso basta. 

Irmãos Huber posam para fotos

6 Comentários em “IRMÃOS HUBER: firmeza e arrojo são os temperos dessa história

  1. Élcio José Rizzi diz:

    Sinto-me orgulhoso em seu parceiro comercial desta empresa. Conheço Vando e Elizário, sou testemunha da capacidade de Gerir os seus negócios com harmonia e muita responsabilidade. Parabenizo os amigos se assim me é permitido. Registre-se aqui o nosso respeito e a admiração que sentimos por vocês. Desejamos saúde plena a todos.

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