WANDA RIEDI: “Quero viver até os 101 anos”

Fotografia de perfil Wanda Ried

Queríamos muito essa entrevista! E que bate-papo! Em poucos minutos de conversa conseguimos conectar os propósitos. A Contelle, ávida por contar uma bela história, e Wanda Riedi disposta a abrir detalhes de sua trajetória, da vida e das suas expectativas. 

Fui apresentada à Wanda menina, como se estivéssemos diante de um álbum de fotografias. Era a memória falando alto, lugares escondidos na lembrança foram revistados. Vieram à tona recordações da infância no campo, do florescer dos talentos natos. E foi assim, durante a entrevista às Páginas Laranjas da Contelle, que Wanda se deu conta de que o empreendedorismo, a liderança e a sensibilidade nasceram com ela. 

Na lista das mulheres paranaenses de sucesso, o nome de Wanda Riedi surge rápido e naturalmente, revestido de grande credibilidade. Uma mulher forte do agro, reconhecida no Brasil, respeitada no mundo dos negócios pela performance multi, capaz de equilibrar o pulso firme nas tomadas de decisões com a percepção sagaz e detalhista.

Queríamos entender o “start”, quando e como as altas habilidades para a gestão de negócios se revelaram de forma tão intensa na vida desta personagem. Filha, irmã, mãe, esposa, empreendedora, administradora, visionária. 

mulher acenando em feira agro

A protagonista foi surpreendida pela própria história

Na sala, a recepção foi cuidadosa. Ela estava à nossa espera e com toda pontualidade. Aliás, descobrimos ser uma marca registrada. Entre um café e outro a conversa foi ganhando profundidade. Antes de conhecer a Wanda, tivemos acesso ao coração da menina. A pergunta-chave foi: “Em algum momento da sua vida a senhora se imaginou assim, uma empresária reconhecida e respeitada?” 

A resposta não estava na ponta da língua, porque ela nunca havia parado para pensar sobre isso de forma tão intencional. Contava sobre as origens. “Desde menina eu era responsável pela casa. Eu tinha seis anos, minha mãe era professora e saía para lecionar. Meu pai era agricultor. Ele tinha também uma granja de suínos e eu ficava com a responsabilidade de cuidar dos irmãos, da casa e fazer a gestão ali. Mais adiante, eu determinava as tarefas para as minhas irmãs. Nós éramos cinco. Meu irmão mais velho ia com o pai para a roça e eu determinava o que cada uma deveria fazer. Consegue imaginar que a gente vai aprendendo desde criança a responsabilidade de fazer todo o processo de gestão? Até de varrer o pátio. Eu pegava uma varinha, o quadrante, o que cada um deveria fazer”.

Risos. A ficha caiu. “Olha… Nesta época eu já fazia isso! Arrepiei. Isso veio vindo comigo”. Tornei a perguntar: Faz sentido?

“Arrepiei de novo. Nunca havia me tocado de quando o empreendedorismo havia surgido em mim. Agora vejo, nasceu comigo”. 

A coragem também remonta desta época. Aos 13 anos de idade, a menina Wanda saía de casa às 5h, estudava em Campinas do Sul, cidade do interior gaúcho. Caminhava nove quilômetros para chegar até a escola. “Tinham estrelas no céu quando eu saía de casa. Passava pelo mato, escutava barulhos e tinha muito medo. Eram os bichinhos, mas corria da minha sombra. Na minha cabeça tinha alguém me seguindo. Esses medos que tive que enfrentar lá no passado me deram a coragem para enfrentar os medos de hoje: o mercado, os bancos, a ousadia de buscar um financiamento, o receio de levar um não e de se questionar porque não deu certo”.

A vida na roça seguiu até os 17 anos, um tempo importante.  Neste período aprendeu com a natureza que tudo tem o seu tempo. O tempo de preparar, plantar, colher. E mal sabia Wanda que a vida lhe apresentaria todas estas fases de forma extremamente literal. 

O CASAMENTO

Foi aos 17 anos que a vida de Wanda passou pela primeira grande mudança. Ela deixou o Rio Grande do Sul e veio para o Paraná a convite de uma tia para ajudar a administrar uma loja de roupas. Responsabilidade que tirou de letra e em pouco tempo estava preparada para desafios maiores. “Vinha a mercadoria, eu marcava, lançava e fazia a gestão. Parecia pouco, eu queria mais. Fiz dois concursos, um para a cooperativa e outro para o Banco Comercial do Paraná. Passei nos dois. Trabalhei primeiro no banco, mas o fato de ter que ficar parada no caixa me deixava angustiada. Então fui para a cooperativa e, como nasci no agronegócio, me identifiquei. Quatro anos depois me casei”. 

O relacionamento com o então futuro marido, Ivo Riedi, começou por telefone. Wanda trabalhava na área comercial. Ivo era empresário e telefonava todos os dias para saber sobre a cotação e o mercado. 

Papo vai, papo vem… Pessoalmente o encontro aconteceu num campeonato de vôlei intercooperativas em Maringá. A sintonia foi grande, no amor e nos negócios. O casamento aconteceu e uma família nasceu. Vieram os filhos: Laura, Ivan e Ivo Filho.

fotografia de casal olhando para a câmera

I.RIEDI, TRAJETÓRIA E EXPANSÃO 

Não é à toa que a I.Riedi é chamada de “empresa-mãe”. Hoje são mais de 19 mil clientes cadastrados e a partir disso, uma nova geração de “empresas-filhas”. Honrando a linhagem, herdaram a robustez e a alta performance de gestão. 

A Irmãos Riedi iniciou sua história em 1955, em Palotina. “Eram quatro irmãos, meu sogro Ludovico, José, Ernesto e Albino. Até 1974, a empresa trabalhava com secos e molhados atendendo às necessidades dos pioneiros que chegavam à região naquela época.  Depois disso, os irmãos deixaram o negócio e meu sogro seguiu”, conta Wanda. 

Com a cisão, Ludovico convidou os filhos para fazer parte da empresa e foi assim que Ivo e Ademir passaram a integrar a sociedade. Nessa época houve também uma mudança: o foco passou a ser o mercado de grãos. Foi assim que de Palotina, a I.Riedi chegou à Terra Roxa e Nova Santa Rosa, onde filiais foram constituídas. Em 1985, Ademir optou por seguir novos rumos e Wanda passou a ser a sócia do marido. 

Até o ano de 2007, Ivo era quem estava à frente dos negócios. “Eu estava envolvida, participava, mas não aparecia por um cuidado meu. Viajávamos muito, passamos um mês nos Estados Unidos fazendo um tour no cinturão agrícola. Eu olhava atentamente o que os produtores faziam e elaborava o relatório, mas quem discutia com a equipe era o Ivo. Eu trabalhava em equipe com o meu marido”. 

E a lei da semeadura e a certeza do princípio bíblico de que “há tempo para todas as coisas” se aplicam certeiramente sobre a vida de Wanda.

“Eu nem sabia, mas estava sendo preparada para o que viria pela frente. É como se a vida estivesse me treinando para enfrentar situações que nem passavam pela nossa cabeça”. 

A reviravolta aconteceu quando Ivo Riedi foi diagnosticado com Alzheimer, um transtorno neurodegenerativo progressivo. Aos poucos, o comprometimento pela doença foi evoluindo e Wanda precisou assumir a linha de frente nos negócios da família. 

“Foi um tempo muito difícil. Além dos negócios, precisávamos proteger a vida dele. Foi um sofrimento por amar demais. O momento mais delicado foi o da não aceitação do Ivo em relação à doença. Eu queria proteger e não conseguia. Já o medo de ter que enfrentar os negócios, nunca tive”. 

fotografia de mulher em plantação

O TEMPO É AGORA

Uma mulher de pulso num mundo masculino como o agro.  Hoje é assim que Wanda é reconhecida. Encarou os desafios, vence obstáculos diários e é a inspiração de muitos. Quando assumiu a gestão, a I.Riedi contava com 18 filiais, hoje são 48. O faturamento que era de R$ 350 milhões multiplicou e atingiu números históricos. A Fipal só trabalhava com a Fiat. Hoje contempla Crhysler, Jeep, Dodge, RAM, a corretora de seguros e planejamento agrícola, a franqueada Localiza e o Consórcio Fipal. Há também a transportadora Transvale e as propriedades rurais que integram o grupo. No total, mais de três mil funcionários.

Os três filhos participam ativamente da gestão e num guardanapo de papel a empresária traçou o desenho da sucessão, planejado desde 2008. Ivo Filho, o caçula, é quem administra a Transvale. Ivan, as propriedades em Goiás, o Consórcio Fipal e a franqueada Localiza, e Laura, a primogênita, a Fipal. 

Sobre reconhecimento, o maior não vem dos negócios. “Quando recebi o prêmio das Mulheres do Agro, ouvi uma amiga dizer que era minha fã não só pelo sucesso profissional e financeiro, mas pela família. Tenho orgulho disso. Honro meu esposo e garanto a ele carinho e todos os cuidados necessários. Mesmo acamado tem todo o nosso amor respeito. Temos três filhos, oito netos, genro, noras e esse é outro lado da vida que me faz entender o quanto os dias valem a pena. A vida vem nos preparando. Tenho isso muito claro: na dor fui lapidada para o próximo degrau da vida. É uma nova visão de mundo, sobre o porquê as coisas acontecem, sobre o quanto Deus está presente”.  

mulher posa para foto

Dona Wanda é também uma mulher de fé. A oração faz parte da rotina.

“Preciso do meu momento com Deus, oro, converso e Dele tenho respostas. A carga é pesada e sem este relacionamento eu não suportaria”. 

 


A reportagem com a empresária Wanda Riedi é a segunda de quatro histórias inspiradoras que você vai conferir no Página Laranjas durante uma série especial em homenagem ao mês das mulheres. Até o fim de março, os textos do nosso blog serão focados nessas figuras tão emblemáticas do Oeste Paranaense: mulheres talentosas, corajosas e autênticas que fazem nossa região ser conhecida Brasil afora. Fique de olho nas nossas publicações porque nas próximas semanas teremos mais dois perfis com mulheres de diferentes segmentos e personalidades: Donna Clarice e Nereide dos Anjos.

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